Pela primeira vez, o mundo teve um período de 12 meses (fevereiro de 2023 a janeiro de 2024) com a temperatura média mais que 1,5°C acima da registrada no período pré-industrial, usado como marco do início do aquecimento global. Fonte: O Globo, 2024. Em maio de 2024 foi publicado um artigo (Bilial & Känzig) que estima os danos causados pelas mudanças climáticas na macroeconomia. Os dados apresentados no trabalho mostram que um aumento de 1oC na temperatura média global resulta em uma queda de 12% do PIB mundial. Claro que esses dados, levados à escala dos países muda totalmente, em função da riqueza do país. Assim, quem tiver maior riqueza, poderá assumir o custo de descarbonizar sua economia com ganhos reais. Portanto dentro de um cenário de aquecimento padrão a perda de bem-estar de valor presente será de 31%. Esses dados estão seis vezes acima de estimativas anteriores e os efeitos são comparáveis a ter uma guerra de grandes proporções travada domesticamente, para sempre.
O estudo desenvolve uma abordagem de séries temporais, através de dados clima-economia abrangendo os últimos 120 anos, a partir de fontes que são regularmente atualizadas e, portanto, permitiu estimar impactos até anos recentes. Foram analisados dados de 173 países a partir do ano 1900.
As conclusões mostram que as mudanças climáticas representam uma grande ameaça para a economia mundial, mas também há consequências alarmantes para a política de descarbonização. Essas técnicas custam entre 27 e 95 dólares por tCO2 capturado. Esses valores são politicamente e economicamente viáveis apenas para países desenvolvidos. Para serem aplicáveis no mundo inteiro haveria que internalizar esses benefícios em cada país. Os custos domésticos do carbono (CDC) são sempre mais baixos que os custos sociais mundiais (os danos internos para um país são menores
que os danos mundiais). O estudo toma como base o Custo Social do Carbono (CSC) de 151 dólares por tonelada de CO2, para concluir que as políticas descarbonização são economicamente viáveis se os governos internalizarem os benefícios para o mundo inteiro. Porém, um governo que internaliza apenas benefícios domésticos, valoriza os ganhos de descarbonização usando o CDC. A título de exemplo, o CDC dos Estados Unidos é de 30 dólares por tonelada de dióxido de carbono e se forem incorporados os custos sociais seria de 211 us$/tCO2. Maio de 2024 mostrou que não dá para pensar em soluções individuais. Maio de 2024 apresentou fatos climáticos alarmantes no planeta inteiro. A Agência Climática Europeia alertou que 2024 teve
o início mais quente da história (em 2023 o planeta teve uma temperatura média maior que 1,5oC acima do período pré-industrial). As chuvas na África deixaram mais de 1,5 milhões de pessoas afetadas no Quénia, Tanzânia, Somália e Etiópia. Na Indonésia enchentes e deslizamentos destruíram infraestrutura e moradias. O prognóstico da temporada de ciclones no Atlântico mostra uma atividade acima do normal, com um número de tormentas entre 17 e 25, sendo que entre 8 e 13 teriam potencial para serem de categoria II e entre 4 e 5 de categoria 3 o maior.
No Brasil, as inundações no Sul, as ondas de calor no Sudeste, a seca nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e Paraná (receberam apenas 4 mm de chuvas entre 20 de abril e 07 de maio) mostram que os efeitos da mudança climática estão presentes e deverão permanecer. Os efeitos econômicos
adversos do fatídico mês de maio ainda estão sendo contabilizados (estimativas apresentam custos para a reconstrução das cidades gaúchas de até 200 bilhões de reais).
Fica clara a relação entre economia e mudança climática. Porém, é uma relação complexa e abrange uma série de interações diretas e indiretas e em escalas temporais e espaciais diversas. As mudanças climáticas podem afetar a economia de várias maneiras incluindo, como vimos, danos a
infraestruturas, perda de produtividade agrícola, aumento dos custos de saúde devido a condições climáticas extremas, migração forçada de populações de áreas afetadas, entre outros. Os custos de adaptação e mitigação, para lidar com os efeitos das mudanças climáticas podem ser caros. Isso
inclui investimentos em infraestrutura resiliente, adoção de tecnologias limpas e políticas de redução de emissões. Esses custos podem ter impactos significativos na economia, embora também possam gerar oportunidades de investimento e crescimento em setores relacionados. Porém, não dá
mais para esperar. As adaptações (principalmente das áreas urbanas) são necessárias e urgentes.
As mudanças climáticas também apresentam riscos financeiros, incluindo o potencial de danos às empresas devido a eventos climáticos extremos, desvalorização de ativos relacionados ao carbono e riscos de investimento associados a regulamentações climáticas futuras. Não dá mais para que
alguns setores internalizem ganhos e socializem custos. Como vimos, os impactos das mudanças climáticas nem sempre são distribuídos de forma
uniforme. Grupos vulneráveis, como comunidades de baixa renda e países em desenvolvimento, muitas vezes enfrentam os maiores impactos e têm menos recursos para se adaptar ou se recuperar de eventos climáticos extremos.
Assim, políticas econômicas, como tributação de carbono, incentivos para energias renováveis e regulamentações ambientais, desempenham um papel crucial na gestão dos impactos das mudanças climáticas e na transição para uma economia mais sustentável e resiliente. Em resumo, a mudança
climática tem implicações profundas para a economia global e requer uma abordagem abrangente que integre considerações econômicas, sociais e ambientais para enfrentar eficazmente seus desafios.
Bibliografia
The Macroeconomic Impact of Climate Change: Global vs. Local Temperature Adrien Bilal and
Diego R. Känzig NBER Working Paper No. 32450 May 2024 JEL No. E01,E23,F18,O44,Q54,Q56.