Ecossistemas e Sociedade ou a velha dicotomia Homem – Natureza?

Alejandro Dorado1
Após as cinco extinções em massa ocorridas na Terra onde foram eliminadas mais de 75% das espécies existentes no planeta em períodos relativamente curtos (2 a 3 milhões de anos), podemos dizer que estamos no início da sexta? Artigos científicos apresentam dados sobre colapso da biodiversidade. Esses estudos tiveram como base moluscos e o começo de uma nova extinção em massa. Porém, em 20174 foram apresentados
argumentos contra essa ideia, já que não existiriam evidencias suficientemente comprovadas para essa conclusão e que o grande problema da conservação não seria a extinção de espécies e, sim, o declínio de populações ao ponto onde muitas espécies existirem apenas como remanescentes da sua antiga abundância. Obviamente, o que está em foco nesses trabalhos é o grau de intervenção humana como vetor de mudanças ambientais. Aqui surge uma visão sobre quais seriam os caminhos que nossa espécie precisaria tomar para evitar esses cenários catastróficos. Em 2019, a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES5) apresentou a necessidade de reversão dessa tendência de
declínio da biodiversidade nos últimos 700 anos. Nesse contexto nasceu a Global Scenarios Framework que reconhece diferentes formas de valoração da natureza e surgiu a Nature Futures Framework (NFF) como método para o desenvolvimento de cenários futuros aceitáveis para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Essa proposta de desenvolvimento de cenários multi-escala centrados na natureza, para um futuro sustentável teve como meta facilitar a coordenação inter-escala e intersectorial para avaliar e reverter o declínio da biodiversidade e dos serviços ecossistémicos (BES).
A elaboração desses cenários não se restringiu às perdas e ganhos da biodiversidade como ponto final e levou em consideração as interconexões e respostas entre a natureza e as pessoas. Assim, essa abordagem considerou os interesses e opiniões das partes interessadas (stakeholders) como chave para atingir um resultado confiável.

O cenãrio multiescalar proposto pelo IPBES teve cinco metas:

1) Formulação de visões futuras positivas para a natureza;
2) Desenvolvimento do NFF para facilitar novas perspectivas para BES;
3) Diagnóstico da atual realidade sob NFF6;
4) Desenvolvimento de indicadores para a novas variáveis de biodiversidade e serviços ecossistêmicos dentro de cada cenário;
5) Quantificação dos cenários da natureza para proporcionar resultados quali-quantitativos.

O resultado, que foi produto do desenvolvimento de cenários com foco nas relações entre os diferentes stakeholders, mostrou um triângulo (Figura 1) entre três perspectivas de valoração da natureza: i. Natureza per se (valores intrínsecos tais como biodiversidade, ecossistemas e com funcionamento autônomo); ii. Natureza como cultura (incorporando valores culturais dos stakeholders); iii. Natureza para a sociedade (serviços ambientais).
Essas três perspectivas misturam-se e não são excludentes. Assim, a relação Natureza – Homem pode ser percebida de diferentes formas. Cabe observar se as respostas do modelo poderão mudar o atual cenário onde a relação homem – natureza está mais para homem – homem, através da natureza

Figura 1: Modelo NFF. Cada eixo corresponde a uma das três perspectivas de valores
para a natureza. As linhas pontilhadas representam cenários temporais futuros para um
presente definido. Aumentos de valores para uma perspectiva requerem interações (tradeoffs) entre os três eixos.
Fonte: adaptado de NFF, 20237

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