Pontos de ruptura climática: estamos preparados?

Em 2023, em seu 6º Relatório de Avaliação (AR61), o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentou descobertas sobre: i) a ciência física das mudanças no clima, ii) os impactos, adaptação e vulnerabilidade às mudanças climáticas e iii) mitigação. O AR6 fornece a informação mais adequada sobre o assunto. As conclusões não são animadoras. As consequências do caminho que a humanidade escolheu, até
hoje, são de um aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em todo o planeta. O relatório apresenta 10 conclusões:

  1. O aquecimento global induzido pela humanidade, de 1,1oC desencadeou mudanças no clima do planeta sem precedentes na história recente;
  2. Os impactos do clima nas pessoas e ecossistemas são mais vastos e severos do que se esperava, e os riscos futuros aumentam a cada fração de grau de aquecimento;
  3. Medidas de adaptação podem construir resiliência, mas é necessário aumentar o financiamento para expandir as soluções;
  4. Alguns impactos climáticos já são tão graves que não é mais possível se adaptar a eles, gerando perdas e danos;
  5. Em trajetórias alinhadas ao limite de 1,5°C, o pico das emissões de GEE acontece antes de 2025;
  6. O mundo precisa parar de usar combustíveis fósseis;
  7. São necessárias transformações urgentes e sistêmicas para garantir um futuro resiliente de zero carbono;
  8. A remoção de carbono hoje é essencial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C;
  9. O financiamento climático tanto para mitigação quanto para adaptação precisa de um aumento significativo nesta década;
  10. As mudanças climáticas vão aumentar a desigualdade se não garantirmos uma transição justa.


    O AR6 deixa claro a necessidade de reduzir as emissões pela metade até 2030 e atingir o zero líquido em 2050. Isso é possível?
    A grande questão está nos gatilhos que podem ser ativados durante o caminho e que podem ser a origem do desastre. São os chamados Pontos de Inflexão Climáticos (Climate Tipping Points) ou gatilhos. Esses são, segundo o IPCC, os “limiares críticos num sistema que, quando excedidos, podem levar a uma mudança significativa no estado do sistema, muitas vezes com a compreensão de que a mudança é irreversível.” Esses pontos de inflexão climáticos são elementos que já existem no sistema terrestre onde pequenas mudanças podem desencadear ciclos que alimentam todo o sistema de uma condição estável, para uma inestável. Assim, um dos nove gatilhos pode desencadear uma mudança na floresta tropical e levar esse ecossistema para uma nova condição (p.e. uma savana).
    Essa mudança pode levar décadas para acontecer e se tornar aparente. Será que já chegamos nesse
    ponto?


    Bibliografia
    Global Tipping Points | Home (global-tipping-points.org)
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